segunda-feira, 5 de junho de 2023

A sombra

Há um lugar pouco visitado, sombrio, digamos, inacessível. Em mim há uma série de outros eus que estão na sombra. Não os conheco, sinto-os,não os vejo, são intangíveis e impermanentes. Não sei se bom ou ruins, certamente um quelquer quê de qualquer entremeio entre escuridão e luz. Revisito-me, faço-me e desfaço-me. Entretanto, nem uma nem outra apresentam-se verdadeira face: enigma da Esfinge que não decifro. Não me decifro e não me devoro, passo, apenas passo. Desconheço-me a mim próprio porque o deconhecer a mim me foi dado, vivo a procurar-me pelas ruas, vielas, portos alegres e nem tantos. No entanto, nesse trajeto que faço de mim a mim, sigo não alcançando Sócrates "Homem, conhece-te a ti mesmo.". Olha pela janela, a tarde é sombria e úmida. Saio a caminhar, talvez os encontre; os eos perdidos de mim. Entro em um bar de esquina, peço um café para pensar nan vida. A vida, "que é breve e passa ao lado", efêmera me chama a bailar. NO entanto, força maior me impele; impele-me e provoca-me. Pego o primeiro ônibus, preciso neste instante voltar a mim, sei que me aguardo. Por fim, a derradeira parada. As ruas desertas altas horas, passantes que me olham, desconfiados. Vou a passos rápidos, tenho um encontro e estou atrasado. Por um instante, paro. Ali está ela, destruída, mas é a casa em que nasci. "Não a importam que a tenham demolido", lembro-me do poeta. Sigo de volta, andei uma cidade toda pensando em respostas externas. Volto para casa, não mais sozinho, mas entendendo o vale das sombras que que habito. Sim, a vida é boa....é necessário entender os seus sinais.